terça-feira, 27 de março de 2012

Livre.



Deitado, ele tem uma expressão séria mas com um toque melancólico. Parece estar pensando muito em algo. Fazendo uma decisão entre duas coisas ruins. Olhos avermelhados e cílios molhados. Senta-se na cama, olhos baixos, continua pensativo.
Pouco depois, levanta-se como que decidido, agarra o agasalho preto com capuz, e vai até a porta.Olha as coisas da casa, os porta-retratos, as almofadas, as cortinas, expressando um "até logo" com os olhos. Sai e fecha a porta. Ergue os olhos, observa as nuvens acinzentadas e começa a descer a rua, que era uma ladeira muito íngreme. O dia estava frio e nublado, choveu a pouco tempo. Repara nas casas e começa a imaginar o que as pessoas estariam fazendo agora, neste exato momento.
Quando chega ao fim da rua, para num ponto de ônibus, senta-se, e espera.
Seus olhos parecem vazios, não tendo sentimento algum por detrás do brilho incandescente em sua pupila. Ele é uma alma vagando sem sentido, sozinho. É um amaldiçoado, e sabe disso. Uma maldição o acompanha desde que se lembra, e apenas isto irá livrá-lo. Tem que acabar.
Um ônibus se aproxima, então ele se levanta e faz um sinal.. Sobe os três degraus da porta, e se dirige para o cobrador. Dá o dinheiro da passagem, mas não repara no rosto da pessoa que o recebe. Senta-se próximo à porta de saída.
As pessoas lá dentro não tem expressão facial, com movimentos robotizados.
-Em que estão pensando?
Olha pela janela. As ruas vazias. As árvores dançando ao vento. A igreja antiga chorando, escorrendo em lágrimas. Tudo passa em câmera lenta, as imagens se exibindo do lado de fora do vidro da janela.
Ele se levanta, vai em direção à porta. O ônibus vai parando devagar, e abre a porta. O garoto desce calmamente. Permanece alguns instantes ali parado, e em seguida começa a caminhar.
O tempo parece não existir para ele, que caminha sereno e angustiado pela ruazinha. Interrompe a caminhada por dois segundos para observar as casas de fachadas coloridas, que pedem para ser admiradas.
Retoma a caminhada, passa na frente de uma casa com pessoas para fora. Elas falam dele, olham com caras de deboche.
-Idiotas...- murmura.
Não se incomoda. Nunca mais os verá de novo, mesmo.
Andando, sobe uma ruazinha. Repara num casal de namorados sorrindo, felizes. Eles nem o notam quando ele lança um olhar feliz em meio a feições tristes.
Chega em uma pontezinha um pouco antiga, bonita. Olha para o sol entre as nuvens-cinza claro
Então ele sobe no parapeito, e com um salto gentil, se lança ao vento. Sente a liberdade da queda, e finalmente
sente-se feliz.



Inspirado nessa música: